Filme Manifesto - O Golpe de Estado
Direção: Paula Fabiana (2017)
Memória do golpe, por Carlos Alberto Mattos
As ruas e o corpo de Paula Fabiana, por Daniel Leão
Memória do golpe
por Carlos Alberto Mattos
Assisti na última sexta-feira à pré-estreia de Filme Manifesto - O Golpe de Estado, um dos muitos documentários que vêm sendo feitos sobre o atual momento político brasileiro. A sessão foi promovida pelo Comitê Volta Dilma RJ, o que significou uma plateia especialmente motivada para participar ativamente do que se passava na tela. Assim, cada aparição de uma Janaína Paschoal, um Bolsonaro ou um Cunha suscitava xingamentos e gritos indignados, ao passo que as entradas em cena de Dilma, Lula e Jandira Feghali eram saudadas com aplausos e manifestações de carinho. As palavras de ordem nas passeatas eram acompanhadas em uníssono pela assistência.
Ainda que uma sessão desse tipo não deixasse muito espaço para uma análise mais objetiva do filme, pude perceber que a intenção da diretora Paula Fabiana foi organizar uma memória dos fatos e reações da militância no período compreendido entre as manifestações de 2013 e o impeachment de Dilma, seguido dos primeiros brados de “Fora Temer”. Registros de TV do Congresso se mesclam com cenas gravadas nas ruas, em atos públicos, passeatas e ocupações. Predomina o ponto de vista do participante, a câmera se virando para se aprumar e conseguir um bom ângulo.
Para quem esteve nessa luta, vale como um retorno a momentos de indignação e resistência. Para quem não esteve, é um resumo de grande poder de concisão. A edição, sutilmente editorializada, deixa claro, entre outras coisas, como os protestos naïf de 2013 foram rapidamente capitalizados pela direita antipetista do “Vem pra rua”, os paneleiros e a retórica dos “sem partido”. Uma dramaturgia de contrastes opõe as manifestações contra o golpe às passeatas verde-amarelas pró-impeachment. Filmes de propaganda anticomunista do Ipês fazem a ponte entre os golpes de 1964 e 2016. Momentos de ironia trágica são destacados, como o agradecimento de Dilma a Temer na reeleição, antes de saber o judas que tinha como vice.
Paula Fabiana saiu na frente e apresentou o primeiro longa sobre esse capítulo negro da nossa democracia.
>> Publicado originalmente no blog carmattos em 15.3.2017.
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